quarta-feira, 11 de julho de 2012


HOJE QUEM PAGA SOU EU

Várias cidades brasileiras, que sediarão jogos da Copa do Mundo, estão empenhadas na construção de seus estádios de futebol, os quais precisam atender todos os itens pertinentes à modernidade, segurança e conforto, tudo de conformidade com o documento assinado pelo governo brasileiro e a Fifa. Além da construção dos estádios, as cidades terão de fazer pesados investimentos no setor de transportes coletivos, aeroporto, rede hoteleira, segurança, comunicação e em outras áreas correlatas à sua infraestrutura, para que possam oferecer aos exigentes turistas, que vierem para esse grande evento, todo o conforto como o que desfrutam em países de Primeiro Mundo onde residem.
No nosso caso (Manaus), esperamos que as obras relativas à infraestrutura da cidade sejam executadas de conformidade com as técnicas de engenharia e arquitetura mais avançadas e com um alto padrão de qualidade e durabilidade, pois, se assim fizerem, os benefícios advindos dessas obras haverão de perdurar por muitas décadas, e o contribuinte que paga essa desumana carga tributária terá como consolo ver o seu dinheiro aplicado de forma inteligente e responsável, propiciando para ele e os demais uma condição de vida mais digna, numa cidade mais humana e moderna.
Nossas autoridades deveriam aproveitar o momento atípico que a história lhes oferece para limpar o centro da cidade da sujeira visual que é causada pela presença dos camelôs, ocupando as calçadas por onde deveriam trafegar os pedestres. Para não assumir sozinho o ônus da culpa, por executar essa árdua tarefa e perder dividendos políticos, poderia o Executivo solicitar ao Ministério Público que o interpelasse judicialmente para solucionar o problema, pois se a presença desses mascates nos logradouros públicos é ilegal, sendo esse poder responsável por zelar pelo cumprimento da Lei, nada mais oportuno que agora fazê-lo. Sempre é tempo para se corrigir os erros do passado.
Não me venham com o discurso hipócrita de que esse comércio ilegal é um problema social porque se trata da sobrevivência de inúmeros pais de família. Tudo balela. Esse seguimento, além de ser um comércio forte financeiramente, pertence a uns poucos comerciantes que encontraram no sistema informal uma forma de ganhar dinheiro fácil, porque não pagam impostos. Essa máfia que se encontra acobertada pelo manto da impunidade não resiste a uma investigação profunda feita pelos órgãos de inteligência da polícia, desde que haja vontade e determinação oficial para fazê-lo. Para algumas pessoas, não há nenhum interesse que a verdade seja escancarada, porque a máscara cairá e mostrará a face daqueles que tiram proveito dessa desordem. Se esse seguimento comercial ilegal pode conviver pacificamente com o discurso de “tudo pelo social”, visto por essa ótica, o tráfico e o comércio de drogas poderiam ser permitido livremente como é o outro, porque também oferece muitos empregos. O mal que ambos seguimentos causam à sociedade é de igual tamanho. O governo, os empresários e a sociedade como um todo têm conhecimento de todos os danos que essa convivência espúria causa à cidade e a seu povo. No entanto, falta alguém com “aquilo roxo”, para chutar o pau da barraca e dar um basta nessa situação anômala. As gerações futuras haverão de nos cobrar caro a conta dessa omissão.
Quanto ao monumental estádio que está sendo construído à custa de uma montanha de dinheiro que, com certeza, irá fazer falta aos setores da saúde e educação, é preciso dotá-lo de uma estrutura física que permita, após a Copa, ser utilizado para outras atividades, visto que o nosso futebol, após a era Limonggi, não decolou, e os times que aí estão não têm estrutura organizacional e competência para participarem até mesmo da série D do campeonato brasileiro, daí o fiasco das suas apresentações quando enfrentam pequenos times de fora, e a pífia renda desses espetáculos. O povo gosta do que é bom!
Com um Distrito Industrial faturando bilhões de dólares anualmente, se a coisa fosse levada mais a sério, grandes empresas desse distrito, provavelmente, não se furtariam a colaborar com o nosso futebol, pois já o fazem com inúmeros times brasileiros de outros Estados, o que é fácil de ser constatado verificando as camisas dos jogadores dessas equipes. Não é justo só o governo ajudar ao futebol manauara.
A nossa geração poderá no futuro ser questionada sobre a omissão e a gastança desordenada de dinheiro público, pois a dívida de tudo isso que está sendo feito agora será paga daqui a alguns anos. O amazonense do futuro poderá nos chamar de irresponsáveis e com justiça dizer: gastaram tudo e, ″hoje quem paga sou eu”.
22/6/2012
Dauro Braga

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